Na Semana que antecede a Solenidade de Pentecostes, toda a Igreja é convidada a orar pela unidade dos cristãos. Nessa iniciativa, todos os que creem no Cristo são chamados a estreitar os laços que, na verdade, já existem, fixando o olhar no que nos une e deixando de lado posturas de desconfiança, por vezes até hostis, motivadas pelo que nos separa. Tais posturas, muitas vezes e por tantos séculos, machucaram a Igreja e escandalizaram o povo. O que nos une é muito maior e mais importante. Aqu’Ele que é o centro da fé da Igreja: Jesus Cristo, o Senhor de todos nós.
Por meio do diálogo, do respeito mútuo e da compreensão, o ecumenismo visa superar as divisões históricas e fortalecer os laços fraternos entre as diferentes igrejas e comunidades cristãs.
O termo ‘ecumenismo’ deriva da palavra grega ‘oikoumene’, que significa “a inteira habitação da terra”. No contexto cristão, refere-se ao esforço conjunto de diferentes igrejas e comunidades cristãs para caminhar em direção à unidade visível, e promover a colaboração na missão comum de testemunhar o Evangelho. O Ecumenismo não se trata de criar uma nova forma de cristianismo. Não é confusão doutrinal e nem fundar uma “superigreja” com a mistura de todas as outras. Trata-se de cessar as hostilidades e buscar a reconciliação entre os seguidores de Cristo. É deixar de colocar obstáculos à plena unidade visível, que será estabelecida pela ação do Espírito Santo.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi um marco significativo para o movimento ecumênico. Através de seus documentos, a Igreja Católica expressou seu compromisso com o diálogo e a colaboração ecumênica.
Os padres conciliares reafirmam que a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica, foi entregue a Pedro (Jo. 21,17) e subsiste na Igreja Católica (LG 8). Ela enfatizou a necessidade de valorizar e respeitar as tradições cristãs separadas, ao mesmo tempo em que buscava a plena comunhão entre elas.
O Concílio enfatizou a importância da oração, do diálogo e da colaboração entre as diferentes igrejas e comunidades eclesiais cristãs. Encorajou o estudo da Escritura e dos escritos dos padres da Igreja, bem como ações conjuntas em áreas como educação, assistência aos necessitados e testemunho comum do Evangelho. Além disso, afirma que “dentre os elementos ou bens com que, tomados em conjunto, a própria Igreja é edificada e vivificada, alguns e até muitos e muito importantes podem existir fora do âmbito da Igreja católica: a Palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis” (UR 3).
O Papa Francisco dirige aos católicos um renovado chamado à unidade. Buscar, com os outros cristãos, o que nos une fortalece a credibilidade no anúncio do Evangelho. Ele diz que devemos “abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus” (EG 244).
Como católicos, é nosso dever e responsabilidade participar ativamente do movimento ecumênico. O Papa São João Paulo II afirmou que “com o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica empenhou-se, de modo irreversível, a percorrer o caminho da busca ecumênica, colocando-se assim à escuta do Espírito do Senhor, que ensina a ler com atenção os “sinais dos tempos” (UUS 3). É um caminho que não podemos e não devemos voltar atrás.
Neste ano de 2023, a Semana de Oração pela Unidade Cristã está acontecendo. São muitos momentos de oração em várias Igrejas Católicas e evangélicas pelo Rio de Janeiro. O encerramento será no Culto Ecumênico de Pentecostes, no dia 27 de maio, às 20h, na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana: Rua Hilário de Gouveia, 36 – Copacabana. Todos estão convidados.
Para resumir:
Ecumenismo não é:
– Mistura de tudo num mesmo cristianismo.
– Disfarce, para uma Igreja dominar a outra.
– Algo que afaste a pessoa da própria Igreja.
– Política de “boa vizinhança”.
– Fingir que as diferenças não existem.
– Desvalorizar a norma de cada Igreja.
– Deixar de lado o espírito crítico diante de qualquer grupo cristão.
Ecumenismo é:
– Diálogo que reconhece e respeita o outro.
– Valorização de tudo o que temos em comum.
– Trabalho conjunto em um testemunho de Cristo ao mundo.
– Criação de laços de afeto fraterno entre Igrejas.
– Oração em comum a partir da fé em Jesus Cristo.
Ecumenismo, como viver:
– Conhecendo e seguindo as orientações da Igreja sobre ecumenismo.
– Buscando sempre a orientação do bispo e dos padres.
– Tratando as outras Igrejas como você gosta que tratem a sua.
– Orando pelas outras Igrejas quando pedir a Deus pela sua.
– Ouvir o que as outras Igrejas têm a dizer sobre o seu jeito de viver o seguimento de Jesus Cristo.
– Conhecendo bem a sua Igreja para apresentá-la corretamente e serenamente aos irmãos cristãos.
– Cultivando uma atitude de boa vontade, capaz de reconhecer o que há de bom em cada Igreja.
– Aprendendo a falar com os irmãos de outras denominações cristãs numa linguagem serena, tranquila, que informe, mas que não ofenda.
– Perdoando e compreendendo, se houver falhas no diálogo, que podem ocorrer após tantos séculos de rejeição mútua.
Referências:
– Carta Encíclica “Ut Unum Sint (1995)”, Papa São João Paulo II.
– Constituição Dogmática “Lumen Gentium” (1964), Concílio Vaticano II
– Decreto sobre o Ecumenismo “Unitatis Redintegratio” (1964), Concílio Vaticano II
– Exortação apostólica “Evangelii Gaudium” (2013), Papa Francisco.
Padre Fábio Luiz de Souza
Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso