Paróquia Santa Catarina de Alexandria promove missão no Morro da Providência

Nos dias 26 a 29 de maio, as novas comunidades presentes na Arquidiocese do Rio de Janeiro, integradas por religiosos e leigos consagrados, entre elas, a Aliança de Misericórdia, Colo de Deus, Sementes do Verbo, Fraternidade O Caminho e Irmãs Sagracianas, estiveram reunidas à convite do padre Renato da Silva Machado, pároco da Paróquia Santa Catarina de Alexandria, situada no centro do Rio de Janeiro, para quatro dias de missões no Morro da Providência com o intuito de avivar espiritualmente a primeira favela do Rio de Janeiro.

Movidos pelo ser missionário, vocação primordial de todo cristão batizado, e pelo mesmo espírito que o Papa Francisco cita ao falar da cultura do encontro, os missionários cariocas e outros vindos de estados, como Paraná e São Paulo, foram enviados, no dia 6 de maio, na missa de abertura presidida por Dom Juarez Delorto Secco, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, e concelebrada pelos demais padres presentes, realizada na Capela Nossa Senhora Aparecida, situada na Estação Central do Brasil.

Uma vez introduzidos na visão espiritual da missão: ser como Maria, que saiu apressadamente para visitar sua prima Isabel, grávida na velhice (Lucas 1,39), cheios do Espírito do Senhor (Isaías 61,1); e na visão estratégica: três grandes grupos subdivididos e enviados de dois em dois, como Nosso Senhor enviava seus discípulos (Lucas 10,1), os missionários puderam promover tal cultura “não só vendo, mas olhando, não apenas ouvindo, mas escutando, não só cruzando-se com as pessoas mas detendo-se com elas, não só dizendo: que pena, pobrezinhos!, mas deixando-se arrebatar pela compaixão”; e, depois, aproximar-se, tocar e dizer: “Não chores” e dar pelo menos uma gota de vida”, como diz o Papa Francisco.

A Paróquia Santa Catarina de Alexandria, promotora da missão, localizada na Região Portuária, que como tantas teve diminuição do número de fiéis durante a pandemia, pode ver seu crescimento, aos poucos, com a chegada do novo pároco, padre Renato, que mesmo assumindo a paróquia em tempo de pandemia, teve algumas iniciativas que contribuíram para esse crescimento, como a abertura das portas da igreja, a retomada de três missas dominicais por fim de semana, o retorno da catequese quando houve liberação da arquidiocese, a mudança do horário da catequese infantil e crismal, a dinamização das pastorais e o início de um trabalho contínuo e diário de evangelização na Capela da Central do Brasil, junto aos paroquianos e às novas comunidades.

“Quando eu vim para cá, a gente começou o trabalho com essas novas comunidades na Capela da Central. Pensei, como vamos evangelizar tanta gente que passa no território paroquial com um número tão pequeno de paroquianos? Então percebi que nas nossas   fraquezas devemos pedir o socorro dos irmãos para que nos ajudem a fazer aquilo que Deus quer”, explicou padre Renato.

Apesar do contexto pandêmico e de isolamento social, tomando as medidas necessárias, o trabalho missionário não parou, percorrendo o caminho oposto de uma crise de fé, vivida por tantos fiéis que ainda hoje não retornaram à frequência dos sacramentos e à vida da Igreja. Quando o Papa Francisco desenvolve o tema da cultura do encontro, alerta: “Nós estamos acostumados com esta indiferença, quando vemos as calamidades deste mundo, quer diante das pequenas coisas, limitamo-nos a dizer: ‘Que pena, pobrezinhos, como sofrem.’”

Em uma realidade pastoral complexa como a visitada, pode se tornar comum tal costume, uma vez que, além da circunstância pandêmica, há o contexto de dificuldades históricas, sociais, econômicas e sanitárias que tornam o trabalho de evangelização ainda mais desafiador.   Segundo dados do IBGE 2019, 17,5 milhões de brasileiros (6% da população) vivem em favelas e a cidade do Rio de Janeiro é a que concentra a maior população: 1,4 milhão de pessoas ou 22% do total, ou seja, a cada cinco cariocas um mora em uma das 763 favelas (IBGE, 2010). Além destes dados, vemos também o aumento nas ocorrências de depressão, ansiedade e estresse em 80% durante o isolamento social, segunda pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e aumento dos índices de suicídio, violência doméstica e uso abusivo de álcool e outras drogas, segundo a OMS. Tudo isto foi constatado pelos missionários e tornou-os ainda mais desejosos de levar a todos a alegria do Ressuscitado.

Na missa de encerramento, presidida por Dom Paulo Romão, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, ele destacou sobre a necessidade de atividade missionária no cenário atual: “Durante e no pós pandemia, quantas dificuldades vieram à tona, pessoas deprimidas e com medo. Precisamos ser testemunhas na realidade onde o Senhor nos colocou”.

Tais questões da necessidade de um trabalho missionário baseado no resgate, que ao contrário do movimento de esfriamento da fé no mundo e diante de tantas perguntas sem respostas lidas nas entrelinhas dos dados estatísticos, lembram ao missionário que ele precisa ser presença e colocar o Cristo que o encontrou e agora habita nele, a serviço e promoção da Esperança. Mais do que nunca é necessário que cada discípulo-missionário vá ao encontro das pessoas, dando testemunho de fé a fim de que todos possam fazer um encontro amoroso com o Senhor, encontro este que dá um novo direcionamento para a vida.

Dom Paulo Romão também destacou que “Cristo é o nosso centro afetivo”, e lembrou aos fiéis presentes que a fé católica “não é baseada em teoria ou em um conjunto de regras e comportamentos, mas é baseada no Senhor da Vida e que na experiência dos discípulos “o que mais tocava as pessoas no encontro com Jesus não eram os milagres, mas o olhar, a acolhida. Jesus não morreu pela Humanidade, mas por você e por mim”.

Para os missionários, professos nas promessas baseadas nos conselhos evangélicos da vida de Jesus, a missão foi um reavivar não só para os moradores do Morro da Providência, frequentadores da Central e paroquianos de Santa Catarina de Alexandria, mas para as novas comunidades, em sua vida missionária e vocacional e na unidade dos carismas, tendo resgatado o valor de uma vida fecundada por Deus a partir, não só da visitação, mas do relacionamento com o outro.

“Quando eu fui embora fiquei muito impactada com isso, porque uma coisa que Deus falava para mim era que Ele não desiste de ninguém. E eu provavelmente teria desistido de voltar na casa dela (uma moradora) e Deus ‘não teria’ feito o que Ele fez dentro da casa, dentro da família, dentro do coração daquela mãe de família. Então foi muito importante, porque acho que eu fui muito mais impactada do que a própria família, porque Ele falou para mim para que eu não desistisse dos meus passos. Então de fato o meu ser missionário foi muito reconstruído nesse final de semana”, disse Geovana, missionária da Comunidade Católica Colo de Deus.

A programação da missão contou com a visitação porta a porta no Morro da Providência e na comunidade Pedra Lisa, missas e adoração, procissões com o Santíssimo e com Nossa Senhora, oração e bênção a prostitutas e irmãos e irmãs que vivem nas ruas, além de atividade com as crianças na tarde do dia 28 de maio. Ao final da missão, as crianças da catequese puderam experienciar a coroação da Virgem Maria, precedida de procissão pelo bairro, como forma de testemunho.

No momento final da partilha da missão e dos testemunhos, padre Wagner Toledo, vigário episcopal do Vicariato Urbano, tendo visto a beleza do trabalho missionário, apresentou a proposta de ampliar a missão em outras partes do vicariato, o que também já era desejo dos padres da forania.

Na verdade, inicialmente, a missão, pela densidade demográfica do Morro, foi pensada em três etapas, passando no território das três paróquias, porém, assim como Jonas que anunciou a Palavra em Nínive, para a qual era necessário um percurso de três dias e o profeta o conseguiu realizar em apenas um dia. Os missionários, ardorosos em anunciar o Cristo, percorreram de forma quase absoluta todo o território já nesta primeira etapa da missão.  Certamente a Missão na Providência, realizada de uma forma muito melhor do que se esperava, antes de ter sido um desejo do pároco e dos missionários, foi um desejo de Deus que se concretizou na abertura dos corações dos missionários e dos que os acolheram.

“Também me alegra ver como os cristãos, o povo de Deus (re)descobre esse gosto de poder pertencer à Igreja Católica, uma Igreja viva, através da procissão com a Virgem Maria e também com o Santíssimo. Para mim é muito forte e muito importante essa missão do Morro da Providência”, disse Bartelemi, missionário da Comunidade Católica Sementes do Verbo, camaronês residente, há seis meses, no Rio de Janeiro.

 

Isabel Canto, missionária da Colo de Deus.

Colaboração: Luiz Guilherme (missionário da Colo de Deus), padre Renato Machado e Leonardo (missionário da Aliança de Misericórdia)

Foto: Comunicação Missão da Providência

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