O arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, deu a bênção no tradicional presépio da Catedral de São Sebastião, no Centro, na manhã do dia 21 de dezembro.
O vigário paroquial, padre Stannly Cunha dos Santos, que esteve à frente na montagem do presépio, procurou evidenciar o Jubileu do Ano Santo de 2025, convocado pelo Papa Francisco, que tem como tema: “Peregrinos de Esperança”. Veja na íntegra a apresentação do padre Stannly:
“Qual o significado verdadeiro do presépio? O presépio nos recorda a essência da festa de Natal que foi completamente deturpada pela sociedade contemporânea, que a transformou em uma festa de consumo e ostentação, esquecendo-se completamente do que é o verdadeiro sentido do Natal, que é a celebração do nascimento do Divino Infante na gruta de Belém em meio aos animais. Para nós que cremos, essa criança que nasceu no curral é o salvador do mundo, que assumiu a nossa natureza humana sem renunciar a sua natureza divina.
São Jerônimo em uma de suas homilias meditava muito bem esse mistério: “O Cristo não encontra lugar no Santo dos Santos, onde o ouro, as pedras preciosas, a seda e a prata reluziam: não, ele não nasce entre o ouro e as riquezas, mas nasce num estábulo, na lama dos nossos pecados. Ele nasce num estábulo para reerguer os que jazem no meio do estrume: ‘Ele retira o pobre do estrume’. Que todos os pobres encontrem nisso consolo! Não havia outro lugar para o nascimento do Senhor, a não ser um estábulo; um estábulo onde se achavam amarrados bois e burros!”
Nosso presépio apresenta este ano a mensagem central do Jubileu de 2025, um olhar sobre a esperança. Das virtudes teologais a esperança é um convite a todo cristão a manter o coração aberto na expectativa do bem maior que é Cristo, razão de nossa fé. Mesmo diante das incertezas da vida, o Papa Francisco nos apresenta neste ano santo proposta que reacende a chama muitas vezes abalada pelo desânimo, medo, incertezas, ceticismo e pessimismo de nossa existência.
Como nos fala São Paulo aos Romanos no Capítulo 5: “A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. O mesmo Espírito Santo mantém essa chama acesa em nosso coração, como sinal de renovação constante dessa esperança e de fé (podemos ver nas tochas acesas da gruta). É nessa perspectiva que retrato em nosso presépio, por meio de tantos elementos, esse precioso tema tão caro pelo Papa.
Através da escuridão, vislumbra-se uma luz: a rosácea, que na arquitetura gótica era um dos elementos característicos e que em seu duplo significado aludia simultaneamente o sol, símbolo de Cristo, e à rosa, símbolo de Maria, é bem marcante no centro da natividade com uma forte luz, para nos mostrar em meio as trevas da vida “O sol nascente que nos veio visitar”, razão de nossa esperança assim como o Salmo 129/130: “A minh’alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora”.
A corte de anjos descendo do céu que anunciam a chegada de Cristo, trazendo a Boa Nova, trazendo a notícia de esperança a este mundo atormentado por tanta desilusões e ideologias contrárias à nossa fé. Anúncio feito aos pastores pelo anjo: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 10-11). Anúncio feito para a ralé de Belém, os pastores, aos pequenos e simples, pois a mensagem de esperança nunca chega aos corações inflados de orgulho.
Por fim, a vegetação do presépio marcada por pinheiros da espécie das coníferas, com características perenes com suas folhas sempre verdes e vivas, mesmo em invernos intensos. Árvores que até podem se adaptar à falta de água. Símbolo de resistência e resiliência. A Esperança também é marcada por essa característica, muitas vezes por parecer desmoronar diante dos sofrimentos e dificuldades.
O Papa Francisco recorda muito bem na Bula “Spes non confundit” – “A esperança não engana”: “Sabe que a vida é feita de alegrias e sofrimentos, que o amor é posto à prova quando aumentam as dificuldades e a esperança parece desmoronar-se diante do sofrimento. E, no entanto, escreve: «Gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança” (Rm 5, 3-4).
Que o nosso presépio leve a muitos que aqui contemplam e rezam a compreender a quem devemos pôr a nossa esperança, a não esquecer que nossa maior âncora é Cristo Jesus.
O Santo padre nos fala: “A imagem da âncora é sugestiva para compreender a estabilidade e a segurança que possuímos no meio das águas agitadas da vida, se nos confiarmos ao Senhor Jesus. As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo, superando o pecado, o medo e a morte. Esta esperança, muito maior do que as satisfações cotidianas e as melhorias nas condições de vida, transporta-nos para além das provações e exorta-nos a caminhar sem perder de vista a grandeza da meta a que somos chamados: o Céu”.
Um santo e abençoado Natal a todos.”