Programa ‘Palavras de Vida’ completa 50 anos de evangelização

Há 50 anos o programa católico “Palavras de Vida”, produzido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro e transmitido inicialmente pela TV Educativa, hoje TV Brasil, continua a ser uma presença da Igreja nos meios de comunicação, chegando aos corações dos fiéis, a cada domingo, em todo o território nacional.

Desde que chegou de Roma, em 1972, onde doutorou-se em comunicação, o padre jesuíta Dionel Lopes Amaral não teve dúvidas que a missão evangelizadora da Igreja está diretamente ligada à comunicação.

O programa, que sempre contou com o apoio do então arcebispo Dom Eugenio de Araujo Sales, tem uma abordagem positiva da missão da Igreja, a partir das palavras do Santo Padre, dos ensinamentos do ordinário local e das atividades pastorais da arquidiocese carioca.

A partir de 1996, a então TV Educativa abriu espaço para outro programa, “Santa Missa”, que permitiu aos fiéis impossibilitados, seja por problemas de saúde, dificuldades de locomoção ou acesso, ou ainda por privação de liberdade, assistirem à missa aos domingos.

Em entrevista ao Sistema de Comunicação da Arquidiocese do Rio de Janeiro, o padre Dionel Amaral abordou a trajetória dos programas “Palavras de Vida” e também do “Santa Missa”, que sempre tiveram grande alcance e o apoio do público, mas também passaram por momentos difíceis, com as ameaças de serem retirados da grade de programação por parte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).


– Quando começou a trabalhar com Dom Eugenio?

Padre Dionel Lopes Amaral – Conheci Dom Eugenio quando ele esteve à frente da Arquidiocese de Salvador, na Bahia, na época, eu era responsável pela transmissão da Santa Missa pela TV Itapoan. Depois, fui para Roma fazer um curso especial sobre comunicação na Universidade Internacional de Estudos Sociais Pró-Deo, e neste período, Dom Eugenio foi transferido para o Rio de Janeiro. Sempre o encontrava quando ele estava em Roma, pois ficava também hospedado no Colégio Pio Brasileiro.

 

– Qual foi a trajetória inicial do programa ‘Palavras de Vida’?

Padre Dionel Amaral – Quando terminou meu curso, Dom Eugenio pediu ao superior da minha congregação para que eu continuasse a trabalhar com ele. Cheguei ao Rio de Janeiro, de Roma, no dia 12 de julho de 1972. Com a autorização de Dom Eugenio fui até a saudosa TV Educativa (TVE), hoje TV Brasil, na Rua Gomes Freire, para conseguir um horário na programação. Em julho de 1972, procurei o diretor geral e ele me encaminhou para o diretor de programação, que me atendeu, abriu o espaço e disponibilizou, a princípio, apenas cinco minutos aos domingos. O diretor perguntou qual seria o nome do programa e, prontamente, respondi que seria “Palavras de Vida”. Voltei a conversar com Dom Eugenio, dizendo que seriam só cinco minutos. Ele olhou para mim e respondeu: ‘Homem, se fosse você aceitaria’.

Para preencher o horário do programa, aproveitava os artigos semanais que Dom Eugenio escrevia no “Jornal do Brasil”, depois para “O Globo”, ou programas gravados que eram transmitidos junto com a Santa Missa, aos domingos de manhã, na Rede Globo de Televisão.

 

– O programa tinha boa audiência?

Padre Dionel Amaral – Passado um tempo, o diretor de programação me chamou e disse que precisaria aumentar o tempo do programa para 20 minutos. Fui conversar com Dom Eugenio e ele novamente repetiu o que tinha dito anteriormente: ‘Homem, se fosse você aceitaria’. O espaço era utilizado com uma mensagem de Dom Eugenio, mais ou menos de 10 minutos, e o restante com a mensagem do Ângelus, que o Santo Padre faz às quartas-feiras na Praça de São Pedro.

Não demorou muito e o programa passou para 40 minutos, depois para 53 minutos. Além das mensagens de Dom Eugenio e do Santo Padre, começamos a incluir as atividades pastorais da arquidiocese. Foi assim que completamos o primeiro esquema do programa “Palavras de Vida” na TV Educativa.

 

– Como surgiu a transmissão da Santa Missa?

Padre Dionel Amaral – Numa nova conversa, em 1989, a TV Educativa resolveu acrescentar mais 55 minutos na programação, passando a transmitir aos domingos de manhã a Santa Missa, logo após o programa “Palavras de Vida”.

Todos os passos que foram dados dentro da TV Educativa foram realizados após consulta a Dom Eugenio. Mais uma vez, ele repetiu as mesmas palavras de apoio para aceitar. Nos estúdios da TV Educativa, na Rua Gomes Freire, Dom Eugenio Sales gravava sua mensagem às quintas-feiras, enquanto a Santa Missa, aos domingos de manhã, sempre foi transmitida ao vivo.

 

– Havia o feedback do público?

Padre Dionel Amaral – O programa sempre teve uma boa repercussão com aqueles que o assistiam. Dom Eugenio abordava temas atuais e por isso havia uma participação muito intensa do público. Quando a Santa Missa começou a ser celebrada, chegavam até a TV Educativa, a cada semana, muitas cartas pedindo orações. Ainda hoje recebo cartas ou as pessoas quando me encontram perguntam pelos programas. Era uma forma, pela televisão, de as pessoas ficarem por dentro do que estava acontecendo na Igreja e, também, de assistir a Santa Missa dominical para quem tinha dificuldades de participar de forma presencial.

 

– O que aconteceu quando Dom Eugenio deixou o comando da arquidiocese?

Padre Dionel Amaral – Depois de Dom Eusébio, veio Dom Orani, que deu todo apoio para que os programas continuassem. Ele próprio presidiu muitas vezes missas nos estúdios da TV Brasil por ocasião do Natal, da Páscoa e, de modo especial, por ocasião da Trezena de São Sebastião e da visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré ao Rio de Janeiro. Quando os programas foram ameaçados de sair do ar, ele colocou à disposição o Departamento Jurídico da arquidiocese para reverter a situação e continuar a levar a mensagem da Igreja, do Evangelho para todos.  Graças a Deus, apesar das dificuldades, chegamos a 50 anos dos inícios da presença da Igreja na televisão.

 

– Porque os programas iriam sair do ar?

Padre Dionel Amaral – No dia 2 de dezembro de 2007, a TV Educativa mudou de nome, e passou a se chamar TV Brasil, ligada à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), um conglomerado de mídia do governo do país. Em 22 de março de 2011, alegado o caráter republicano laico da EBC, foi aprovada uma resolução pelo Conselho Curador que determinava a suspensão, dentro do prazo de seis meses, de todos os programas religiosos constantes na programação da emissora. No domingo, dia 18 de setembro de 2011, foi feita o que seria a transmissão final da Santa Missa, no ar desde 1989.

 

– A ação na justiça teve sucesso?

Padre Dionel Amaral – A assessoria jurídica da Arquidiocese do Rio de Janeiro, sob os cuidados da advogada Claudine Milione Dutra, conseguiu, no dia 20 de setembro de 2011, uma liminar junto à Justiça Federal em Brasília, para manter no ar a transmissão do programa Santa Missa e, por consequência, o programa “Palavras de Vida”. A ação impetrada mostrou que a decisão do conselho tinha forte e indesejável carga de discriminação religiosa, porque ‘excluía do âmbito de sua programação todos os programas religiosos, violando assim a disposição expressa do inciso VI da Lei 11.652/2008, que veda a discriminação religiosa’.

 

– Como foram as produções dos programas após a ação na Justiça?

Padre Dionel Amaral – A decisão da Justiça foi uma vitória de Deus. Os dois programas continuaram na programação, mas não podíamos mais gravar ou fazer edições nos estúdios da TV Brasil. Tivemos que providenciar a produção em estúdio próprio, sob a responsabilidade da própria arquidiocese. Desde então, a Santa Missa deixou de ser transmitida dos estúdios da TV Brasil e passou, a partir do dia 20 de agosto de 2017, a ser transmitida do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no Recreio dos Bandeirantes, depois, a partir do dia 1º de novembro de 2020, da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, no bairro da Glória.

 

Perfil

Padre Dionel Lopes Amaral nasceu em Belém do Pará, no dia 5 de setembro de 1933, filho de Nicanor dos Santos Araújo e de Carlota Lopes do Amaral.

Ainda em Belém, cursou os ensinos primário e ginasial. Rumo ao sacerdócio, cursou filosofia na Faculdade Nossa Senhora Medianeira, em Nova Friburgo (RJ), concluindo em 1958; e teologia no Centro de Espiritualidade Cristo Rei, em São Leopoldo (RS), de 1962 a 1966. De 1969 a 1972 estudou em Roma, na Universidade Internacional de Estudos Sociais Pró-Deo, conseguindo o doutorado em comunicação.

Na Arquidiocese de São Paulo recebeu a ordenação diaconal em 1965, por Dom José Thurler, e a ordenação presbiteral no dia 18 de dezembro de 1965, por Dom Cândido Padin, OSB. Professou os votos perpétuos na Companhia de Jesus, onde está incardinado, no dia 2 de fevereiro de 1975.

Como sacerdote, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, padre Dionel Amaral exerceu os ofícios de professor de ética profissional no Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica, a PUC-Rio, a partir de 1973; assessor de imprensa da arquidiocese e diretor do programa “Palavras de Vida”, a partir de 1975, e do programa “Santa Missa”, a partir de 1989.

 

Carlos Moioli

 

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