Receitas de santidade: a vontade de Deus e a nossa vontade (I)

Em nossa caminhada da fé, é comum que passemos bastante tempo pensando o que Deus quer de nós, da nossa vida. Ou, mais propriamente, o que Deus quer que façamos de especial com nossas vidas. É interessante que o que há de mais comum entre os homens é a compreensão de que Deus é amor, e quem ama não faz o mal ao seu amado. De fato, Deus é amor, todo o princípio do movimento se dá pelo amor.

Na primeira das receitas de santidade, anterior a essa, já havia sido dito que o homem foi criado para acolher em seu coração somente o que é bom, o que lhe parece verdadeiro.

Quando o pecado entrou no mundo pela ação divisora da serpente, ela fez de tal modo que Adão e Eva pensaram estar fazendo algo que lhes traria um benefício, algo que lhes faria bem, ainda que Deus tivesse proibido.

Na nossa vida, tudo o que fazemos, quer seja bom ou seja ruim, é movido por algum tipo de amor, seja ele um amor egoísta ou um amor generoso. E, ora, ninguém jamais dirá que o amor não está a serviço do bem. Sendo assim, buscamos manifestar o amor em todas as nossas ações, ainda que por vezes nós não consigamos.

Veja o exemplo de Paulo: antes que Paulo pudesse converter-se à fé em Cristo, ele perseguia os cristãos porque amava e acreditava, de todo o seu coração, que a Lei judaica era o caminho da verdade. Ele tinha colocado na única coisa que ele achava que iluminaria a sua existência: a defesa da fé judaica.

São Paulo é um exemplo para nós, tanto antes quanto depois da sua conversão justamente porque ele viveu toda a sua vida para que as pessoas pudessem conhecer a verdade.

Este é o caminho, esta deve ser a nossa vida, esta é a vontade de Deus para nós: manifestar a verdade da fé em Jesus Cristo, em nossas vidas, em nosso cotidiano.

Paulo perseguia os cristãos, por acreditar que ele possuía a verdade. Quando Cristo se manifesta a ele e ilumina o seu coração, ele percebe o seu erro: aquele que antes tirava vidas pela suposta verdade que acreditava, agora estava disposto a ofertar a própria vida em favor da Verdade, que é Jesus Cristo.

Uma só coisa Deus pede de nós. Um só é o seu mandamento: amar a criação e o Criador da mesma maneira que Ele ama. Agora, como se manifesta o amor de Deus na minha vida, na tua vida?

O Amor de Deus é percebido por nós na medida em que nos unimos à Sua Vontade.

Santo Afonso Maria de Ligório responde dizendo que “o amor puro e perfeito que os santos no Céu tem para com Deus consiste em uma perfeitíssima união da sua vontade à vontade divina”.

Se nós queremos dar prazer ao nosso Deus, devemos ter uma uniformidade com a Sua vontade. Reparem que foi dito que temos que ter uma uniformidade. Não somente aceitar a vontade de Deus, mas querer o que Deus quer, do jeito que Ele quer, quando Ele quer. Esse deve ser o único objetivo de nossas vidas.

Mas como é difícil ver as dificuldades da vida e aceitar que aquela é a vontade de Deus.

Que quando o meu estimado amigo faleceu, a vontade de Deus se manifestou em minha vida; que quando eu sofri um assalto, a vontade de Deus se manifestou na minha vida. Enfim, diz Santo Agostinho para nós: “Conhecei que tudo quando vos acontece é pela vontade de Deus que ocorre, ainda que seja contrário à vossa”.

Sendo assim, temos que estabelecer um critério para perceber quando as nossas ações manifestam a vontade de Deus:

Primeiro passo: devemos constantemente crescer no conhecimento de Deus, de seus mandamentos, e nos aprofundar no conhecimento da nossa própria existência. Para isso Ele nos deu os santos, os bispos, o Papa, os padres, a Sagrada Tradição.

Segundo passo: é preciso que nós tenhamos a intenção de fazer o bem, que a coisa que planejamos fazer siga os caminhos permitidos por Deus e que o resultado dessa nossa ação seja algo bom, sobretudo espiritualmente.

Terceiro passo: Tendo feito a nossa obra, devemos meditar se fizemos aquilo para que pudéssemos ajudar os irmãos e para que o Reino de Deus cresça em nosso meio.

Se cumprirmos esses passos de maneira justa, a vontade de Deus certamente será manifestada por nossa ação.

Agora imagina que você é um engenheiro civil e planejou um prédio com todo o cuidado, mas acabou errando diversos cálculos, de modo que o seu prédio desmoronou, ainda que você tivesse feito com toda a atenção e que você tivesse o conhecimento necessário para realizar esse trabalho em favor da sociedade. Nesse caso, você realizou tudo o que estava ao seu alcance para que a coisa desse certo, utilizou-se dos meios adequados e você tinha a capacidade de realizar a obra, mas tudo deu errado.

Entenda uma coisa, amado irmão, amada irmã: não só de sucessos um santo viverá; também os fracassos humanos são uma forma de Deus manifestar a Sua vontade. Cabe a nós entender algo que um dia um sábio homem me disse: “a matemática de Deus não é a nossa”. Às vezes, faremos uma soma simples, como 2 + 2 = 4, mas Deus fornecerá um resultado completamente diferente do esperado em nossa vida.

De nós, Deus pede somente uma coisa: “Buscai primeiro o Reino dos Céus e sua Justiça e todo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).

Para que possamos ser capazes de tornar o nosso coração semelhante ao coração de Deus, peçamos que Ele eleve o nosso coração ao alto. Olhe para tudo o que aconteceu na sua vida e no dia de hoje e reflita como a vontade de Deus se fez presente nesses momentos. Ou seja: de que modo Deus quer que eu o ame mais através dessas ocasiões?

Que pela intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe do Amor Divino, sejamos capazes de perceber o esplendor da vontade de Deus em nossas vidas e sejamos dóceis a tudo o que nos acontece, para que o nosso coração seja uniformizado com a vontade de Deus, em Jesus Cristo, nosso Senhor, pela ação do Espírito Santo.

 

Waiss Lucas Barboza Coelho – Seminarista da configuração I

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