Receitas de Santidade: a vontade de Deus e a nossa vontade (II)

Abandonemo-nos, sempre, à bondosa vontade de nosso Senhor. Para que possamos fazer isso, é preciso ter claro os momentos em que claramente a vontade divina se mostra em nossa vida. Para isso, recorramos ao Doutor Zeloso da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, que apresenta as diversas formas de percebermos, nos acontecimentos do cotidiano, a vontade de Deus:

  1. Devemos unir-nos à vontade de Deus nas coisas naturais, como quando está frio, calor, chovendo, em tempo de escassez ou mesmo de pandemia. Devemos nos proibir de queixar do frio, do calor, pois mesmo esse frio ou esse calor ou a atual estação são manifestações favoráveis para que sejamos amáveis com as determinações de Deus.
  2. Devemos unir-nos à vontade divina quando sofremos com a fome, com a pobreza, com o abandono, com a difamação. Em tudo isso sejamos capazes de dizer: “Senhor, Tu fazes e desfazes, e eu estou contente, desejando unicamente o que tu queres”. Do mesmo modo devemos dizer quando estamos considerando algumas situações imaginárias, imaginando o que faríamos ou diríamos para alguém, quando nos ofendesse. Devemos responder interiormente, no mesmo momento em que nos surgem tais imaginações: “Eu diria e faria o que Deus quisesse”. Somente assim fugiríamos da inquietação do nosso coração.
  3. Se por acaso possuímos algum defeito natural, seja no nosso espírito, seja no nosso corpo, como ter memória fraca, dificuldade intelectual, falta de algum membro do nosso corpo, saúde debilitada, não fiquemos tristes. Pense consigo: Deus te deu tudo o que você tem, mesmo sem você merecer nada disso. O que nos falta é para nós um impulso para entendermos nosso caminho de salvação. Será que se tivéssemos uma inteligência maior, ou uma capacidade física maior, nós realmente estaríamos aqui hoje, procurando caminhos para agradar o nosso Deus? Poderia acontecer que, com tantas qualidades, nós acabássemos achando que não precisamos de Deus.
  4. Devemos particularmente ter uma aceitação especial das enfermidades corporais que recebemos, sejam doenças agressivas, como o câncer, ou doenças comuns, como um resfriado. Devemos aceitar a doença pelo tempo que Deus quiser nos deixar com elas.

Mas vejam só: isso está longe de ser uma desculpa para não tomarmos a medicação e o cuidado necessários para que fiquemos curados. Devemos fazer o que nos cabe em todos os momentos: se estamos doentes, iremos ao médico e tomaremos o que ele nos receitar. Agora, nossa parte estamos fazendo, que é buscar auxílio médico e tomar a medicação necessária, mas mesmo assim a doença pode permanecer por muito tempo. Cabe a nós dizer nessas ocasiões: “Meu Deus, não desejo saúde nem doença; desejo somente que a Vossa vontade seja realizada em minha vida”.

Somente uma coisa é realmente importante: amar a Deus de todo o coração, amando todas as outras coisas da mesma maneira que Ele ama.

É um grande feito nós aproveitarmos tudo o que Deus nos dá, sem lamentar de nossas angústias durante o tempo de dor ou tempo de enfermidade. No entanto, caso essa doença seja para nós um grande sofrimento e motivo de tristeza, é claro que podemos partilhar essa situação com algum amigo ou familiar, ou mesmo suplicar a Deus que nos afaste de tais doenças. Cristo também fez isso no início de sua Paixão. Ele disse aos seus discípulos que sofria, que estava triste diante do seu sofrimento na Cruz. “A minha alma está triste até a morte”(Mt 26,38), Cristo revela aos seus discípulos. Logo no versículo seguinte, Cristo suplicou ao Pai que O livrasse desse sofrimento grandioso, dizendo: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim esse cálice” (Mt 26, 39). No entanto, no mesmo versículo ele continua dizendo: “Não como eu quero, mas como Vós quereis”.

Em tudo que nos acontece, Deus tem um propósito superior para nós. Sempre que tentarmos mudar uma situação, façamos motivados unicamente pelo desejo de dar a maior honra e glória a Deus.

Rezemos com São Francisco de Assis: “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado, resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.

Ainda hoje, assim que possível, pensa em todas as tuas ações do dia, da semana, e agradeça a Deus por tudo o que recebeste d’Ele, pedindo perdão pelas vezes que o teu coração fugiu da bondade divina, querendo fazer unicamente o que parecia ser mais agradável a ti, ainda que Deus não queira que faças isso.

Lembremos que o maior sofrimento que houve foi por nós, para que o nosso sofrimento tenha um sentido superior, um sentido de salvação, assim como foi e está sendo a Cruz Gloriosa de Cristo Jesus.

Que pelos méritos da Santa Cruz de Cristo, na ação do Espírito Santo e benevolência de Deus-Pai, sejamos capazes de acolher e unir o nosso coração à vontade de Deus em nossas vidas.

 

Waiss Lucas Barboza Coelho – Seminarista da configuração I

 

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