Solenidade da Ascensão do Senhor

“Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48)

 

Celebramos neste final de semana a Solenidade da Ascensão do Senhor ao Céu, festa transferida da quinta-feira passada para o domingo. Ele volta ao Pai, mas não nos deixa órfãos: envia o Espírito Santo, o Paráclito, o Defensor. É por meio do Espírito Santo que sentimos sua presença no meio de nós. Pela ação desse Espírito Santo, somos perdoados de nossos pecados, e o pão e o vinho se tornam Corpo e Sangue de Jesus.

Celebramos a volta de Jesus ao Pai e, na próxima semana, celebraremos a vinda do Espírito Santo. A Igreja é sustentada pela ação do Espírito Santo. Por isso, mesmo com os ventos contrários que sopram contra ela, a Igreja permanece de pé, não perece, pois é conduzida pelo Espírito. É graças a Ele que temos acesso aos sacramentos, sobretudo à Eucaristia e ao perdão dos pecados.

Há uma diferença entre a Ascensão de Jesus ao Céu e a Assunção de Maria: Jesus sobe ao Pai por sua própria vontade e poder; Nossa Senhora é elevada pelos anjos. A partir do momento em que Jesus volta ao Pai, Ele envia os discípulos em missão, para dar início à Igreja primitiva, conduzidos pelo Espírito Santo. Do mesmo modo que Ele enviou os discípulos, envia também a nós, nos dias de hoje, pois, pelo batismo, nos tornamos discípulos e missionários de Jesus.

Nesta celebração, comemoramos também o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, pois somos chamados a anunciar a Palavra de Deus em todos os lugares – ainda mais em nossos tempos, com o advento das redes sociais e da internet. Por isso, agradecemos o trabalho de todos os profissionais que atuam nas mídias católicas, pois, por meio delas, evangelizam e anunciam Jesus Cristo. Ao final de cada celebração, quando o sacerdote diz: “Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe”, termina a missa, mas inicia a nossa missão de comunicadores da Palavra da Salvação. Portanto, nesta celebração, elevemos uma prece de gratidão a Deus por todos os que comunicam a Palavra.

No Evangelho, Jesus explica aos discípulos tudo o que estava escrito sobre Ele. Após sua morte e ressurreição, voltaria para o Pai, e os discípulos seriam testemunhas disso, pois O veriam subir aos céus. Jesus os abençoa e os envia em missão, para que, por meio do Espírito Santo, continuem a sua obra.

A primeira leitura da missa deste domingo é do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 1,1-11). O autor é o mesmo do terceiro evangelho sinótico, São Lucas. O trecho lido hoje é o início desse livro, no qual Lucas escreve a Teófilo, retomando o que dissera em seu primeiro livro. Ele narra que Jesus morreu, ressuscitou e, antes de voltar para o Pai, prometeu o envio do Espírito Santo sobre os discípulos. É justamente essa promessa que celebramos entre hoje e o próximo domingo. Lucas resume a verdade da nossa fé: acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou por nós, e que continua vivo entre nós por meio do Espírito Santo.

João batizava com água; nós somos batizados com água e com o Espírito Santo. Jesus é o verdadeiro autor do batismo. Lembremos que, no Sábado Santo, durante a Vigília Pascal, renovamos as promessas do nosso batismo: somos convidados a mergulhar novamente nas águas e a receber o Espírito, para nos tornarmos novas criaturas. Esse Espírito deixado por Jesus guia nossa vida e a vida da Igreja. Ele nos torna testemunhas de Jesus ressuscitado, para que possamos testemunhá-Lo com nossa própria vida. Não precisamos ver Jesus ressuscitado para crer: é o Espírito Santo quem nos revela a sua ressurreição. Aguardemos com esperança a sua segunda vinda.

O Salmo responsorial é o 46 (47), cujo refrão diz: “Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta”. Do Céu, o Senhor olha por todos nós e reina sobre todas as nações da Terra. Ele assumiu nossa condição humana por meio de seu Filho, fez-se à nossa imagem e semelhança e nos ensinou o amor ao próximo. Subiu ao Céu diante dos discípulos, e cremos que Ele vive eternamente entre nós por meio do Espírito.

A segunda leitura é da Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 1,17-23). Neste trecho, Paulo faz um apelo à comunidade de Éfeso: que seus corações se abram para crer que Jesus ressuscitou dos mortos e voltou para o Pai. Que o Espírito de sabedoria desça sobre todos e os faça compreender que Jesus é o Senhor do universo – o mesmo ontem, hoje e sempre. Jesus é a cabeça da Igreja, e nós, enquanto comunidade eclesial, somos seus membros. Como tais, somos enviados por Ele a anunciar o Evangelho, assistir aos necessitados, dar pão a quem tem fome e visitar os doentes.

O Evangelho deste domingo é de Lucas (Lc 24,46-53). Este trecho encerra o Evangelho de Lucas e prepara o início do Livro dos Atos dos Apóstolos, que ouvimos na primeira leitura. Nele, Jesus diz aos discípulos, antes de voltar definitivamente ao Pai: “O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e, em seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24,48).

Os apóstolos seriam testemunhas de tudo isso, pois viram o Senhor subir ao Pai. Jesus não os deixaria órfãos, mas enviaria o Espírito Santo, o Paráclito, que caminharia à frente deles e abriria os caminhos para que continuassem a missão deixada por Ele. Foi assim que nasceu a Igreja primitiva: a partir do envio do Espírito Santo, que os capacitava a perdoar pecados, anunciar o Evangelho e curar os doentes. Tudo isso se tornou possível graças ao Espírito Santo.

Que possamos continuar, hoje, a missão que Jesus confiou aos seus discípulos. Anunciemos com alegria o Evangelho da salvação. Indiquemos o caminho do bem e da reconciliação com Deus. Que, por meio da Palavra anunciada, possamos encorajar os tristes, animar os desanimados e consolar os doentes. Que o Espírito Santo nos ajude a vencer o medo e nos torne verdadeiros discípulos e missionários de Cristo.

Sigamos firmes na missão dada por Jesus, e que, apesar dos ventos contrários, a Igreja permaneça de pé, graças à ação do Espírito Santo. Que Ele suscite novos batizados e pessoas livres e disponíveis para servir a Deus. Rezemos pelo Papa Leão XIV, recém-eleito, que iniciou seu ministério petrino no último dia 18 de maio, por nosso bispo diocesano e por todo o clero, para que, por meio do Espírito Santo, sejam fiéis em sua missão.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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