Um Te Deum foi realizado na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro, no dia 27 de abril, para celebrar os 130 anos da elevação da então Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro à condição de arquidiocese e sede metropolitana, por meio da Bula “Ad universaiorbisecclesias” – (do latim: “Para as Igrejas de todo o mundo”), do Papa Leão XIII, em 27 de abril de 1892.
“Hoje é um dia que deve ser celebrado e comemorado como um grande passo para a Igreja do Brasil, sendo que um dos motivos é a criação de nossa arquidiocese. O conhecimento do conteúdo da Bula “Ad universaiorbisecclesias” é um bom motivo para contemplar e guardar a história no coração e para cantar louvores ao Senhor por esta graça que recebemos”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, em suas palavras de acolhida.
A celebração contou com a presença dos bispos auxiliares Dom Roque Costa Souza, Dom Juarez Dellorto Seco e Dom Tiago Stanislaw, do vigário episcopal para a Cultura, cônego Marcos William Bernardo, de sacerdotes, autoridades políticas e fiéis. Todos foram acolhidos pelo pároco, padre Silmar Alves Fernandes, que também é o curador da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
“Estamos na nossa Antiga Sé, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, para agradecer a Deus pelos dons que recebemos e também pedir as suas graças para essa grande responsabilidade que nós temos na história, cultura, religiosidade e presença na cidade e em nosso país”, disse o arcebispo, acrescentando que na referida igreja, que foi por 200 anos a Catedral, estão sepultados o corpo de Dom Joaquim Arcoverde, o primeiro cardeal do Rio de Janeiro, do Brasil e da América Latina, e os restos mortais de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil.
“Fazemos parte da história do país seja no Brasil Colônia, Império e República”, observou Dom Orani, destacando que, de modo particular, a “Igreja Católica está presente na vida e na história da cidade desde a sua fundação, há mais de 450 anos, na condição de paróquia, prelazia, diocese e, por último, como Arquidiocese do Rio de Janeiro”.
“Durante o tempo do padroado, no Império, não houve a possibilidade de fundar novas arquidioceses, só existia a de Salvador, a primaz do Brasil. Quando foi criada a então Diocese do Rio de Janeiro, ela tinha sob a sua responsabilidade pastoral um território muito grande, que compreendia todo sul da Bahia, o Centro-Oeste até o Uruguai”, explicou o arcebispo.
“Após a Proclamação da República e a separação da Igreja do Estado, foi necessário reorganizar as circunscrições eclesiásticas e, por isso, o Papa Leão XIII, há justamente 130 anos, criou a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Na mesma Bula Pontifícia criou outras dioceses no país, inclusive ligadas à Arquidiocese do Rio de Janeiro, como é o caso da nossa vizinha Diocese de Niterói”, concluiu Dom Orani.
Comentário histórico
Como parte da programação, o padre Eraldo de Souza Leão Filho, doutorando em História Social pela UFRJ, fez um comentário histórico da caminhada da Igreja no Brasil, tendo como base a Bula “Ad universas orbis Ecclesias”, do Papa Leão XIII, na qual o Rio de Janeiro foi elevado à condição de arquidiocese e sede metropolitana.
Missão da Igreja
Após o padre Eraldo ter conduzido o comentário histórico, Dom Orani recordou que a Igreja e Estado estavam ligados desde os inícios do Descobrimento do Brasil até o século XIX, e que o “regime do padroado não foi um privilégio”, mas sim, “amordaçou o crescimento da Igreja do Brasil de diversas formas”.
“A Igreja passou por dificuldades – para a criação de uma paróquia ou diocese, por exemplo, era preciso o decreto do imperador e a aprovação do Legislativo –, mas ela subsistiu e levou adiante a missão. Com a separação da Igreja do Estado, já no tempo da República, foi possível a criação de novas dioceses, como a Arquidiocese do Rio de Janeiro, que hoje celebramos 130 anos de existência”, disse.
“Com a libertação do Estado, a Igreja pode criar novas circunscrições eclesiásticas e atuar com mais dinamismo, missão evangelizadora. Agradecemos o caminho feito pelos que nos precederam, no qual muitos sofreram perseguições e até foram aprisionados na luta pela liberdade de expressão”, disse o arcebispo.
Dom Orani observou que a Igreja no Rio de Janeiro sempre teve sua “importância na história civil, religiosa e devocional do povo”, por estar situada na então sede do Império, depois na capital da República. Ele também recordou grandes eventos realizados na cidade, como o primeiro Congresso Eucarístico, em 1922, em comemoração ao centenário da Independência, e o Congresso Eucarístico Internacional, em 1955, cujas músicas são cantadas ainda hoje.
Ação de graças
Dom Orani convidou a todos para cantar e rezar com os lábios e o coração o Te Deum (do latim:“a Vós, ó Deus, louvamos”), de Franz Liszt, que foi conduzido pelos cantores da Astorga Coral e Orquestra, tendo Benedito Rosa como organista.
Na conclusão, antes da bênção final, os cantores e cantoras Juliana Sucupira (soprano), Rejane Ruas (contralto), Ivan Jorgensen (tenor) e Ciro D’Araujo (baixo) também apresentaram o “Ofertório de São Miguel Arcanjo” e “Ave Regina Caelorum’, do repertório sacro do padre José Mauricio Nunes Garcia, mestre de canto da então Catedral, considerado o maior compositor erudito brasileiro do período colonial.
Texto e Foto: Carlos Moioli