A Arquidiocese do Rio de Janeiro vive neste ano de 2023 o Ano Vocacional Missionário, preparando-se para o Sínodo Arquidiocesano sobre as Missões que acontecerá até o dia 8 de junho do Ano Santo de 2025. Em clima de celebração, reflexão e oração, toda a Igreja Arquidiocesana é convidada a revisitar e a fazer ecoar, de modo especial, o Documento de Aparecida, fruto da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (V Celam), que aconteceu de 13 a 31 de maio de 2007, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP).
Estava presente, como um dos delegados do episcopado brasileiro, o então arcebispo de Belém do Pará, Dom Orani João Tempesta. Tive a graça de ter sido ordenado por ele nesse mesmo ano, no dia 24 de junho, um dia depois de seu aniversário natalício. Sendo o 50º sacerdote ordenado, na época, em 10 anos de episcopado.
Ao retornar do V Celam, no dia 1º de junho, Dom Orani passou uma manhã inteira, no Carmelo de Benevides, onde eu, juntamente com outro diácono que, juntos, fazíamos o retiro para ordenação sacerdotal. Ali, naquela manhã tivemos a graça de sermos os primeiros com quem ele compartilhou a grande experiência de Aparecida.
Os olhos de Dom Orani brilhavam ao partilhar o que aconteceu naqueles dias. O clima de fraternidade entre os bispos, os momentos de oração e celebração com a presença dos peregrinos, a evolução das reflexões e, de modo especial, a presença e as palavras do Santo Padre, o saudoso, Bento XVI.
Por isso, retomamos um trecho do discurso de abertura do V Celam, proferido pelo Santo Padre: “Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e o centro de sua vida, então experimentará a alegria e a fecundidade da sua vocação. O sacerdote deve ser, antes de tudo, um ‘homem de Deus’ (1 Tm 6, 11); um homem que conhece a Deus ‘em primeira mão’, que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os ‘sentimentos de Jesus’ (cf. Fl 2, 5). Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus, o Deus encarnado em Jesus Cristo aos homens, e de ser representante do seu amor. Para cumprir a sua altíssima missão deve possuir uma sólida estrutura espiritual e viver toda a existência animado pela fé, a esperança e a caridade. Tem de ser, como Jesus, um homem que procure, através da oração, o rosto e a vontade de Deus, cultivando igualmente sua preparação cultural e intelectual”.
Se a princípio o tema da V Conferência do Celam falava em “discípulos e missionários”, logo os bispos perceberam que discipulado e missão eram duas realidades que não podiam ser separadas, pois a consequência do discipulado era a missão. A experiência do encontro com Cristo se transforma em testemunho, por isso passaram a usar o termo discípulos missionários.
Essa realidade nós podemos verificar na vida e na missão de Dom Orani, um verdadeiro discípulo missionário de Jesus Cristo, fazendo de sua vida um contínuo anúncio, sendo, com sua presença, a presença do Cristo Bom Pastor.
Esse pastoreiro que manifesta-se fecundo nos números que podemos verificar: em 26 anos de episcopado, ordenou 12 bispos, 270 sacerdotes (177 na Arquidiocese do Rio de Janeiro) e 216 diáconos permanentes. Em 14 anos como arcebispo do Rio de Janeiro, criou 38 novas paróquias e reinaugurou a Paróquia São José para os fiéis de língua chinesa, dinamizou a organização dos vicariatos, tanto os territoriais quanto os temáticos, que são o da Educação, Irmandades, Cultura e Meio Ambiente e Sustentabilidade, como forma de intensificar a presença da Igreja na permanente missão de anunciar Jesus Cristo em todos os campos, lugares e realidades. Criou o Seminário Missionário Redemptoris Mater, reabriu o Seminário Menor São João Paulo II e instituiu o Fundo Sacerdotal Cardeal Sales com a preocupação de formar os futuros padres e leigos para o mundo. Também instituiu na arquidiocese a Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural, a Delegação para a Causa dos Santos e Comissão para a Tutela de Menores e Pessoas Vulneráveis. Assim, podemos perceber como o espírito da V Celam permanece vivo e atuante nas ações e no pastoreio de Dom Orani, mesmo tendo transcorrido 16 anos.
Agora, essa experiência é reavivada em nossa arquidiocese, nessa ocasião em que somos convidados a olhar para nossa realidade, nossa ação pastoral, nossa presença de Igreja, nossa atuação na sociedade, no diálogo com a cultura, com o mundo acadêmico, nossa presença junto aos mais pobres, junto àqueles que sofrem. E podemos perceber toda a riqueza e complexidade e como é viva a missão da Igreja no Rio de Janeiro.
Somos, assim, todos convocados, pastores, fiéis leigos e consagrados, a reavivar o chamado de nosso batismo a tornar-nos discípulos de Jesus Cristo, e essa experiência de discipulado deve manifestar-se em nossas atitudes e ações. Fazendo, assim, de nossa vida, de nossa ação pastoral, de nossa presença no mundo, de nosso contato com aqueles que nos cercam, uma verdadeira e constante missão, anunciando Jesus Cristo com a nossa vida e testemunho.
Nesse caminho podemos olhar para nosso pastor, que como discípulo missionário caminha conosco e com sua disponibilidade e testemunho nos faz experimentar a proximidade de Cristo Bom Pastor, construindo Unidade e convidando-nos, também a nós, a sermos, com Ele, discípulos missionários de Jesus Cristo em meio à realidade da grande cidade do Rio de Janeiro. Vocação e Missão, o Senhor que nos chama a caminhar com Ele, também nos envia a anunciá-Lo, para que n’Ele todos tenham vida!
Padre Carlos Augusto Azevedo da Silva
Doutorando em Direito Canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma