Restabelecimento arquidiocesano do diaconato permanente
O diaconato, como ministério permanente, foi restabelecido na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro sob o pastoreio de Dom Eugenio de Araujo Sales (Ata de Reunião dos Diáconos Permanente, Livro 1 – ARDP 1, f. 41). A primeira turma começou em 1984 e ordenou nove diáconos em 6 de junho de 1987 (ARDP 1, ff. 1-19. 23). Homens maduros, profissionais, pais de família e empolgados com a possibilidade de servirem a Deus de um modo, até então, inusitado. A primeira pergunta que os responsáveis pela formação se fizeram foi: como preparar (formar) um diácono?
Os primeiros a se verem envolvidos com esta tarefa foram monsenhor Narbal da Costa Stencel (diretor da Comissão Arquidiocesana para o Diaconato Permanente de 1984 até 1988, até ser ordenado bispo e tornar-se responsável pela animação dos diáconos permanentes até o ano 2000), padre Bruno de Souza Gayão, padre Edson de Castro Homem, (que após ordenação episcopal também será bispo animador dos diáconos de 2005 até 2015), padre José Mazine Rodrigues e monsenhor Gilson José Macedo da Silveira.
A exigência de uma boa formação era cobrada por Dom Eugenio. Inicialmente, exigia-se três anos do Curso Mater Ecclesiae, mais formação específica ao diaconato que ocorria em um dia da semana à noite e/ou nas manhãs de sábado. O primeiro esboço dessa formação direcionada vemos na reunião de 16 de julho de 1985. Padre Edson propôs um curso sobre teologia do diaconato, o estudo da diaconia de Cristo e da Igreja; matéria sobre os ministérios eclesiais, a natureza do diaconato, e o conceito de hierarquia; propunha-se, ainda, uma análise da relação entre sacerdócio e ministério e da relação entre o diácono, o presbítero e o bispo; a sacramentalidade do diaconato e sua relação com os leigos; por fim, um esboço sobre a tríplice diaconia e o perfil do diácono (ARDP 1, ff. 22-22v, 31, 80 e 82.).
Na busca de uma melhor formação, críticas foram feitas. O diácono Roberto Luiz Fernandes Lima, em reunião de 14 de setembro de 2000, afirmou que o Curso Mater Ecclesiae era insuficiente na formação de diáconos (ARDP 1, ff. 29-29v). Padre Pedro Paulo concordou com a colocação do diácono Roberto Luiz. Falou-se da necessidade da filosofia e do ensino da Língua Portuguesa na revisão curricular. Contudo, será a criação da Escola Diaconal Santo Efrém o salto de qualidade na formação do diacônio carioca.
A criação da Escola Diaconal Santo Efrem
Aos 12 dias do mês de fevereiro de 2003, sob o pastoreio de Dom Eusébio Oscar Scheid, foi criada a Escola Diaconal Santo Efrém. O decreto episcopal traz as razões que motivaram a instituição da escola: (1) as novas orientações formativas das Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes e do Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes; (2) o dever de pastor e pai de prover, cuidar e estimular a formação ao diaconato permanente; (3) a necessidade de acompanhar o itinerário da formação, dando aos aspirantes e candidatos o conhecimento espiritual, pastoral e teológico para o exercício do ministério diaconal.
Neste sentido, a Escola Diaconal Santo Efrém é um marco na história do diacônio carioca. É, pois, o resultado do esforço conjunto dos bispos animadores do diaconato permanente, da Comissão para os Diáconos da Arquidiocese, dos responsáveis pela formação e, certamente, de Dom Eusébio Oscar Scheid. Coube ao padre Pedro Nunes de Almeida, como diretor, auxiliado pelo diácono Juranir R. Machado, a tarefa de organização estrutural da escola: disciplinas, corpo docente, funcionalidade etc. (ACDP 2, f. 34v). Em 25 de maio de 2002, sugeriu-se dois nomes para a instituição: Edith Stein e Santo Efrém, que foram encaminhados a Dom Eusébio para que escolhesse. Ganhou aquele a que chamam de “Arpa do Espírito Santo”, sinal profético dos novos tempos que sopravam na arquidiocese.
Em fevereiro de 2003, teve início o ano letivo da Escola Diaconal Santo Efrém. Mas, Dom Eusébio queria mais investimento no capital cultural e simbólico do diaconato. Assim, em 27 de dezembro daquele ano, inaugurou uma sede própria nas dependências da Igreja São Joaquim, no Estácio. O diácono Alonso Sena Frazão, recém-eleito presidente dos Diáconos Permanentes, cuidou do contrato de comodato. Mais tarde, o arcebispo promoveu, com recursos próprios, uma reforma no prédio, sob a responsabilidade do diácono Miguel Elias. A reinauguração ocorreu em julho de 2007, onde passou a sediar a Escola Diaconal Santo Efrém, com aulas aos sábados. Durante o governo de Dom Orani João Tempesta, a Escola Diaconal Santo Efrém foi transferida para o Seminário Arquidiocesano de São José, no Rio Comprido, onde permanece até os dias de hoje.
A opção por um centro estável de formação, com profissionais especialmente destinados a este trabalho, foi fundamental para o desenvolvimento e aprimoramento dos candidatos ao ministério diaconal. Observando as dioceses do Brasil que restauraram o diaconato como ministério permanente, podemos concluir que as que mais ordenaram diáconos são aquelas que desenvolveram um programa de formação próprio e estável, materializado em uma escola diaconal. Nesse cenário, destaca-se a Arquidiocese do Rio de Janeiro, com 258 diáconos em pleno exercício ministerial, atualmente o maior diacônio do Brasil.
Atualmente, os candidatos ao diaconato na Escola Santo Efrém apresentam bom nível de formação com preparação específica ao ministério em quatro anos de formação e um ano preparatório, o propedêutico. Um perfil do candidato mostra quão enriquecedor é o diácono para a vida da Igreja. Em pesquisa realizada em 2017, constatou-se com relação à formação primeira dos aspirantes ao ministério que 67% possuem nível superior, com 19% destes com pós-graduação lato sensu e 9% com cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. As áreas de formação são variadas. Há advogados, economistas, contadores, professores, pesquisadores, médicos, também, militares, enfermeiros, farmacêuticos, empresários etc. A faixa etária predominante é de 36 a 45 anos (44,2%). Se considerarmos a faixa etária até os 55 anos, alcançaremos a cifra de 72,1% dos candidatos.
A formação ao ministério diaconal em fases possíveis
A história da formação do ministério diaconal no Rio de Janeiro pode ser concebida em três fases distintas e, a um só tempo, engranzadas. A primeira corresponde ao governo de Dom Eugenio de Araujo Sales. Trata-se de um período de organização da formação, de fomento das diversas práticas pedagógicas, de incremento da concepção acerca do que é o diaconato, de maturação sobre sua funcionalidade, de identificação de um perfil vocacional e de preparação das comunidades e do presbitério para acolher os novos ministros ordenados. Foi uma fase de experimentos e de superações, com um crescimento moderado do diacônio (38 ordenações de 1987-2000), que deu lugar a um processo formativo mais ousado e empreendedor que marcará o momento seguinte.
A segunda fase formativa se caracteriza pelo aumento das vocações e pela consolidação e estabilidade do ministério diaconal na arquidiocese. Este momento se enleia ao governo de Dom Eusébio Oscar Scheid, que muito trabalhou para aparelhar o diaconato carioca. Instituiu uma sede própria, que mais tarde deixou de existir, mas, principalmente, criou a Escola Diaconal Santo Efrém. Há, pois, um acelerado crescimento numérico dos diáconos (73 ordenações de 2001-2008), fruto de uma formação sistemática, em formato institucional, com método pedagógico crítico e com investimento financeiro e humano especializado. A escolha de um centro de preparação para os futuros diáconos foi imprescindível para seu pleno desenvolvimento, com aprimoramento intelectual e prático daqueles ministros.
A fase atual, consoante ao governo de Dom Orani João Tempesta (212 ordenações de 2009-2023), caracteriza-se por um maior conhecimento nas comunidades do diaconato permanente, consequentemente, por uma maior procura pelo ministério e, também, por uma significativa exigência de capacitação dos candidatos na arquidiocese. Trata-se de uma fase onde os diáconos são conhecidos, seus trabalhos reconhecidos e seus estilos de vida, desejados. O perfil dos candidatos também mudou quanto à faixa etária. Enquanto os primeiros diáconos possuíam mais de 50 anos, em média. Hoje, a faixa etária predominante oscila entre os 35 e 50 anos. Quanto à formação, aumentou-se em um ano o tempo de preparação e cresceu o nível de exigência formativa.
Celebramos 20 anos… para muitos mais
Ao celebrarmos 20 anos de sua criação, afirmamos ser a Escola Diaconal Santo Efrém uma instituição fundamental não apenas para a consolidação e a estilização formativa do ministério diaconal, mas estratégia essencial para a própria construção do capital cultural e simbólico do diacônio carioca em sua identidade própria e percepção ministerial na arquidiocese. Trata-se, pois, de lugar de cultivo da vocação, sinal privilegiado da arte do cuidado de uma Igreja ministerial, que entende a hierarquia como serviço e que, servidora e dialogal, tem no diácono o sinal privilegiado do Cristo Servo no mundo.
Diácono Luciano Rocha
Doutor em história (Uerj) e pós-doutorado em teologia (PUC-Rio)
Fonte: Luciano Rocha. Ministério Diaconal: história e teologia. São Paulo: Paulus, 2020. (Adaptado pelo autor).