33º Curso para os Bispos | ArqRio | 23 de janeiro

Santa Missa, presidida pelo Cardeal José Tolentino Mendonça

Na manhã de terça-feira, 23 de janeiro, os bispos iniciaram o dia com a Santa Missa, presidida pelo Cardeal José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a cultura e educação. Em sua homilia, D. José Tolentino falou da necessidade de que o homem tenha um ponto de centralidade, a partir do qual possa conduzir os eixos dos vários âmbitos da vida. “A Igreja é muito desafiada pelo Papa Francisco a partir claramente do centro que é Cristo”, destacou o Cardeal. “E se nós nos tornarmos todos mais cristológicos, com maior capacidade de partir de Jesus em cada dia, a Igreja vai transparecer verdadeiramente como seu Sacramento, como seu sinal, como sua presentificação na história de cada um dos nossos irmãos e na grande história.”

 

 

1° Conferência – Cardeal Tolentino: privilegiar o exercício do diálogo

Abrindo o ciclo de conferências da 33ª edição do Curso para os Bispos do Brasil, que trabalha com a temática Antropologia integral e a crise da cultura atual, o prefeito do Dicastério para a cultura e a educação, Cardeal José Tolentino Mendonça, apresentou nesta manhã, para um auditório repleto de bispos de todo o Brasil, a conferência Mudança de época: crise e oportunidade para o Evangelho.

O Cardeal iniciou a primeira das suas duas conferências nesta edição do curso chamando atenção para a diferença entre tecnologia e tecnocracia. Enquanto aquela seria um exercício humano da técnica guiado ainda pelo conhecimento científico, esta seria o poder que a tecnologia hoje exerce sobre o Ser Humano e onde conhecimento científico não é só o motor externo do desenvolvimento técnico, mas torna-se uma função intrínseca da própria tecnologia.

A partir dessas definições, D. José Tolentino desenvolveu uma intensa reflexão acerca da metamorfose progressiva da condição humana que, no mundo contemporâneo, a partir da evolução científica, se mistura com as máquinas e com os mecanismos da tecnologia da informação.

“No horizonte do transhumanismo”, destacou D. Tolentino, “pela primeira vez na história da humanidade, a biologia passa a interagir intimamente com a tecnologia, propondo-se como um corretor da biografia humana. O transhumanismo pretende ser uma versão melhorada do corpo humano introduzindo ajudas que já não são externas, mas internas. O ser humano renuncia a ser o seu próprio corpo limitando-se a ter um corpo.”

Diante do surgimento de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, e do uso imoral que delas pode ser feito, o Cardeal recordou o antídoto da “promoção do pensamento crítico” indicado pelo Papa Francisco. “O sentido ‘crítico’ é constitutivo da fé cristã”, recordou o prelado. “Na verdade, a crise reside no cromossoma do Cristianismo. Foi – já há dois mil anos – não apenas um espectador, mas a causa do declínio do mundo antigo: a primeira grande mudança de época que o próprio Cristianismo começou. A partir desse momento, a crise nunca mais deixou de acompanhá-lo, desencadeando uma sucessão de outonos e primaveras. A fé pode entrar em crise, certamente. A era da secularização grita isso sem muita cerimónia. Mas também a fé cristã deve constituir uma causa de crise, e questionar e transformar continuamente os sistemas sociais e culturais onde vive. Se não provoca crise, isto é, se não leva ao discernimento evangélico da realidade, desacelera, e deixa de testemunhar a fala do que está sentado sobre o trono: «Eis que faço novas todas as coisas» (Ap 21:5).”

Se já não vivemos mais numa era de fé homogênea, destaca o Cardeal, também já não estamos mais no tempo em que o ateísmo parecia reclamar uma espécie de superioridade cultural. Nesse mundo de possibilidades a redescobrir, será missão da Igreja “privilegiar o exercício do diálogo.”

 

2° Conferência – Pe. Luís Henrique: o Ser Humano na Sagrada Escritura

Quem é o Ser Humano segundo a Sagrada Escritura? Foi partindo dessa questão que o Pe. Luís Henrique Eloy e Silva, reitor da PUC Minas e membro da Pontifícia Comissão Bíblica, desenvolveu a sua fala no fim desta manhã para os bispos reunidos no Rio de Janeiro para o 33º Curso para os Bispos do Brasil.

Fazendo um breve panorama sobre a figura do homem nas escrituras, desde o relato da criação no Gênesis, passando pelo desenvolvimento na literatura profética e sapiencial, até chegar ao Novo Testamento, Pe. Eloy indicou que “o ser humano, mesmo sendo ‘terreno’ é fruto do projeto amoroso de Deus, seu criador, e por isso recebe o sopro da vida e se torna um ser vivo. O ser humano é guardião de uma missão especial, por ser imagem de Deus.”

O reitor da PUC Minas ressaltou em sua conferência a dupla tarefa que é conferida ao ser humano desde o Éden acerca da terra: trabalhá-la e de dela cuidar. E a partir dessas duas tarefas vinculam-se o alimento, o trabalho e os animais. O alimento surge nas Escrituras “como perene oferta do criador às suas criaturas”, enquanto o trabalho é necessária atividade do homem para alcançar uma vida de qualidade. Também os animais surgem como ajuda para a humanidade, fornecendo alimentação, vestuário e ajuda no trabalho. Dessa forma, é a partir da dinâmica da comunhão com a criação que o ser humano pode viver o projeto do Deus criador.

“Desse modo”, indicou Pe. Eloy, “a finitude e a grandeza caracterizam o ser humano conforme a visão dos autores bíblicos. Ele reconhecido como uma criatura, não é criador de si mesmo. Ainda que ligado ao pó da terra, frágil e ameaçado de morte, possui uma relação especial e única com seu criador.”

Após os estudos da parte da manhã, os bispos terão na parte da tarde um diálogo com os dois conferencistas, Cardeal Tolentino e Pe. Eloy e Silva. Em seguida haverá uma terceira conferência com D. Joel Portella. O 33º Curso para os Bispos está sendo realizado no Centro da Estudos do Sumaré, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, e tem como tema Antropologia integral e a crise da cultura atual: reflexões, consequências e encaminhamentos.

 

3° Conferência – Dom Joel Portella: o mistério de Cristo: identidade profunda do ser humano

D. Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, encerrou o ciclo de conferências do primeiro dia de estudos do Curso para os Bispos de 2024. Com uma conferência intitulada Subjetividade aberta e antropologia integral: o ser humano à luz da teologia sistemática, D. Joel trouxe para os bispos presentes no auditório do Centro de Estudos do Sumaré importantes questões acerca da reflexão teológica sobre o ser humano, buscando compreender quem é o homem diante de si, dos demais, do restante da criação e de Deus.

Expondo pontos importantes de antropologia teológica, D. Joel Portella destacou a centralidade do conceito de pessoa: “A partir das contribuições da patrística e da teologia medieval, podemos identificar uma característica que consiste em reconhecer que cada ser humano existe em si, possui um valor que brota de sua própria existência, anterior ou independentemente de qualquer outra condição. Para essa característica, utilizamos o termo pessoa, acrescentando o adjetivo humana – pessoa humana – para evitar qualquer tipo de erro na aplicação do conceito.”

A partir das categorias teológicas expostas, D. Joel apresenta três indicações pastorais como resposta. Primeiro, os ensinamentos do Papa Francisco, centrado na perspectiva da fraternidade universal que deve conduzir qualquer projeto pastoral específico. Como segunda indicação, o bispo destacou também a Campanha da Fraternidade 2024, cuja temática é Fraternidade e amizade social, temática esta que, segundo D. Joel, é “a base sobre a qual o mundo de nosso tempo está se organizando.” Por fim, chamou atenção para as atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, destacando de modo especial as chamadas comunidades eclesiais missionária, configurações comunitárias onde os vínculos humanos são explicitados e estimulados.

“Enfim”, concluiu D. Joel Portella, “cabe à Igreja estar no mundo, sem ser do mundo, inserir-se em meio às pessoas, com suas alegrias e dores para lhes apresentar o mistério de Cristo e, nesse mistério, a identidade mais profunda do ser humano.”

Ainda na tarde desta terça, 23, o Cardeal D. José Tolentino, o bispo de Campanha, D. Pedro Cunha, e o Pe. Luís Henrique Eloy e Silva participaram de uma coletiva de imprensa, com a participação de diversas mídias e canais católicos. Os bispos também participaram de um encontro com representantes da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

O curso dos bispos segue com sua programação até a próxima sexta-feira, 26.

 

Textos: Eduardo Silva – Arquidiocese do Rio de Janeiro

Fotos: Gustavo de Oliveira e Bruno Carvalho

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